Na esteira dessa minha iniciação beat, baixei o filme Howl!, sobre o processo envolvendo o poema homônimo de Allen Ginsberg, um dos principais expoentes dessa geração. "Howl" (Uivo) é um longo poema que descreve os jovens da época, bem como as experiências e reflexões de Ginsberg, envolvendo amores, amigos, uso de drogas etc.
O filme retrata o julgamento do editor Lawrence Ferlinghetti, o qual estaria vendendo o material obsceno constante no poema. O processo se dá de modo a decidir se o poema constitui ou não um atentado à sociedade.
A estrutura do longa é composta por quatro linhas narrativas interpostas: a biografia do poeta (em preto em branco), uma entrevista com ele, o julgamento e a declamação do poema por Ginsberg numa espécie de bar/reunião associada com ilustrações.
Na entrevista, Ginsberg (James Franco) descreve sua formação literária, a amizade com Jack Kerouac e Dean Cassady, o romance com Peter Orlovsky e a produção de "Howl". A parte biográfica recria a década de cinquenta, com o bares, o bop, as ruas de Denver, São Francisco e Nova York, com um belo tratamento de imagem e fotografia e deliciosa trilha. A declamação do poema revela a ótima atuação de Franco e é uma das partes mais interessantes do filme, por ilustrar o poema com desenhos surrealistas, numa ótima alusão ao uso dos psicotrópicos, tão inerente à geração descrita e à biografia do escritor.
Ginsberg e McCartney:
Gil e a lata da "Metáfora":
No entanto, o trunfo do filme, na minha opinião, reside no julgamento, com a argumentação a respeito da relevância literária do poema, com o questionamento acerca do uso de palavras chulas e com o interrogatório de professores de literatura no intuito de defender ou condenar a obra. Meu lado acadêmico "siricuticou" diante da bela argumentação, embora eu nem ache o poema tão maravilhoso. A despeito de sua qualidade estética, o texto é, de fato, um marco para a contracultura, e tem, por isso, o seu valor. É interessante perceber a riqueza e a pertinência na argumentação de defesa, uma vez que a poesia é um tipo de texto muito abrangente, que não pode ser reduzido a definições simplórias e estanques. Como canta Gilberto Gil, "na lata do poeta tudo-nada cabe".
acima, John Hamm (Mad Men), como o advogado de defesa do editor
O filme não é algo de extremo primor, mas tem sua força. Como disse, o poema não é dos meus favoritos e algumas das ilustrações carecem de charme e originalidade e sofrem de neutralidade excessiva, destoante da atmosfera do filme e da história relatada, e das próprias ilustrações que Ginsberg costumava fazer chapado. Ainda assim, é uma empreitada ousada na descrição de uma época culturalmente rica, alternativa e muito interessante - a ante-sala de inúmeros movimentos, como o hippie e punk.
Uivo
para Carl Solomon
“Eu vi os expoentes da minha geração destruídos pela loucura,
morrendo de fome, histéricos, nus, arrastando-se pelas ruas do bairro negro
de madrugada em busca de uma dose violenta de qualquer coisa,
"hipsters" com cabeça de anjo ansiando pelo antigo contato celestial
"hipsters" com cabeça de anjo ansiando pelo antigo contato celestial
com o dínamo estrelado da maquinaria da noite,
(…)
que transaram pela manhã e ao cair da tarde em roseirais,
na grama de jardins públicos e cemitérios,
espalhando livremente seu sêmen para quem quisesse vir,
que soluçaram interminavelmente tentando gargalhar
que soluçaram interminavelmente tentando gargalhar
mas acabaram choramingando atrás de um tabique de banho turco
onde o anjo loiro e nu veio atravessá-los com sua espada,
(…) ”.
Ginsberg e McCartney:
Gil e a lata da "Metáfora":
Adoro filmes assim! Aliás... Adoro suas indicações!
ResponderExcluirJá baixei "A vida em preto e branco". Não vi ainda! Mas pretendo.
Beijos
Preciso ver este filme aline, adoro James Franco!
ResponderExcluirComo vai vc minha amiga, saudades!
Todos os meus beijos e amor,
Kira
Se achar me passa o link tb... =D
ResponderExcluirbeijos
Ele era casado ou pai ou alguma coisa da Natalia Ginsburg?
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