Dia 10: Clássico favorito
Eu poderia indicar bem uns quatro livros para essa categoria, mas apontarei aquele que li mais vezes: Madame Bovary, de Gustave Flaubert.
Tive uma febre francófila na minha formação, em que achava que deveria saber tanto da literatura francesa quanto sabia da brasileira (isso também se deu com a portuguesa). Daí desenvolvi um verdadeiro caso de amor com dois autores/pensadores da modernidade: Charles Baudelaire e Gustave Flaubert. Esse último legou uma obra tão importante para as artes, que vem sendo estudado com a mesma relevância da época da publicação.
O romance conta a história de Emma, uma mulher sonhadora pequeno-burguesa, criada no campo, que aprendeu a ver a vida através da literatura sentimental. Bonita e requintada para os padrões provincianos, casa-se com Charles, um médico interiorano tão apaixonado pela esposa quanto entediante. Nem mesmo o nascimento da filha dá alegria ao indissolúvel casamento ao qual a protagonista se sente presa. Para sentir-se "viva", ela mergulha em aventuras românticas e no consumismo desenfreado, exaurindo-se até o limite.
Flaubert acabou respondendo a um processo por atentato à moral e à religião. A sociedade da época não estava preparada para um realismo que se eximia de juízos de valor. Era inconcebível uma narrativa que descrevesse uma mulher com tamanho desejo e ousadia, sem que o narrador indicasse o menor índice de reprovação. Afinal, o papel do realismo era apontar a sujeira da sociedade, esfregando-a na nossa cara com assertivas didáticas e sarcasmo ridicularizante. Qualquer isenção de julgamento punha a mira na testa do autor, aquele imoral safado.
Madame Bovary, mais que uma crítica à educação das moças através de uma literatura alienante - a romântica - é ainda o romance que preludia a linguagem cinematográfica, com flashes e cenas simultâneas intercaladas. Flaubert eleva, ainda, os anseios de cada personagem a verdadeiras pinturas, compondo belíssimos quadros de intenso lirismo.
Se no século XIX não havia televisão ou internet, carregados de novelas, sitcoms e propaganda, o papel de "vitrine" era encenado pelo romance, ao descrever os hábitos, os bailes, as óperas e a moda. Só que mais que descrever, Flaubert denuncia uma nova forma de olhar, compatível com as novas tecnologias que cada vez mais apelavam para a visão.
Um verdadeiro marco na medida em que retrata a modernidade de forma inusitada e incômoda para a época, e que convida à reflexão, possibilitando ainda hoje discussões variadas sobre o homem e a arte.
Acho que Madame Bovary foi um dos primeiros clássicos estrangeiros que eu li, e ainda é um dos meus preferidos (ok, ainda tenho muito o que ler, mas um dia chego lá heheh)
ResponderExcluirbjs
Estou adorando, lendo vorazmente todos seus textos!!
ResponderExcluirSim, e quais os outros 4 que também são seus clássicos favorito?!!
bjuu
Karol
Nunca li, mas a tua descrição só aguçou a minha vontade! Tenho uma lista ENORME de grandes clássicos para ler. Não sei porque não leio mais esse tipo de livros. Mas olha, quando andava na escola tive que ler Os Mais e ADOREI! Fui a única que li tudinho do início ao fim! Só não gostei de Aparição, do Vergílio Ferreira. Já leste?
ResponderExcluirJá li e adorei!! ótima indicação!! Vc foi na Bienal??
ResponderExcluirBjs! Bom final de semana!!
Olá Aline
ResponderExcluirParabéns amiga pela classificação no desafio. Quem sabe nos encontramos na final!
Bjooooooooooo...............
http://amigadamoda.blogspot.com
Karol, pode incluir 'A metamorfose' e 'O processo', de Kafka; 'Crime e Castigo', do Dostoievski; 'Cem anos de solidão', do Gabriel Garcia Marquez; 'Flores do Mal' e 'Pequenos poemas em prosa', do Baudelaire; 'Uma estadia no inferno', do Rimbaud; 'Dom Casmurro' e 'Memórias Póstumas de Brás Cubas', do Machado de Assis...
ResponderExcluirCat, eu aaaaamo 'os Maias' e 'O primo Basílio'! Eça é um dos realistas mais divertidos!
ResponderExcluirMas não li a 'Aparição'. É bom?
tenho super vontade de ler
ResponderExcluiracho que ja vi vc falando dele
é mesmo um classico
bjs
li esse livro 3 vezes e a última eu consegui ( \o/ ) ler em francês. Sabe, tive outra percepção dos personagens, prinipalmente Emma e Charles.
ResponderExcluirEsse foi o terceiro livro que eu mais li. O primeiro foi Dom Casmurro e o segundo foi Clarissa, do Érico Veríssimo. Este último, aliás, leio desde minha adolescência e a cada leitura faço uma viagem aos meus 13, 14 anos.
Eu tenho esse livro, mas ainda não li!
ResponderExcluirBjosss
Lineee, esses posts tão me deixando desesperada!! Sabe aquele episódio de GG em que Rory se depara com a biblioteca de Harvard e fica louca pensando que uma vida não vai dar para ler tudo que existe!? Então kkkkkkkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirMadame Bovary é lindo, poético e libertador. A primeira feminista da história literária, na minha opinião. Uma mulher que morreu pelos seu desejo de não se entregar a uma vida medíocre.
Tem um outro francês que eu gosto demais também, o Guy de Maupassant, você já leu?? Um livro dele chamado Uma Vida, que é emocionante.
Ah, você perguntou no blog se eu já li o Angústia do Graciliano... Li sim, mas estava pensando justamente ontem que preciso reler, porque com certeza vai enriquecer muito minha pesquisa.
Beijossssssssss
Tati
Amo Madame Bovary. Admito que foi o único Flaubert que li em toda a minha vida mas o livro me marcou muito.
ResponderExcluirUm clássico altamente recomendado.